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Teatro: Goiânia terá dois meses de apresentações culturais / Marcos Marrom vê artistas como atores da modificação social

Goiânia se prepara para festejar, durante dois meses, a Se­gun­da Grande Revirada Cultural. Entre diferentes apresentações artísticas, a programação das artes cênicas promete reviver os tempos do teatro de rua. Os palcos que abrigarão os espetáculos de dança, teatro e circo serão montados em praças, bosques e feiras livres.
O teatro de rua, uma das manifestações mais antigas da arte popular, foi criado desde a consolidação da arte teatral, na Grécia Antiga. Traz na bagagem séculos de história e influências, que vão desde as mascaras dos espetáculos medievais às roupas e capuzes dos soldados da Procissão do Fogaréu. Os atores utilizam o corpo e a voz para a construção estética na composição das ruas da cidade.
Segundo Leonardo Peixoto, ator e produtor teatral goiano, as apresentações populares urbanas são uma miscelânea de linguagens e de influências estéticas. Para ele, o teatro de rua é fruto de uma união entre o circo, a dança e a cultura popular. “As roupas, as interpretações, os movimentos da arte circense influenciaram no que o teatro se tornou. E isso é bebido também nas fontes dos eventos da cultura popular.”



Uma das maiores linguagens adquiridas nas ruas e nas esquinas das grandes cidades foi a arte circense. Para Peixoto, os malabares, os bonecos marionetes e os mágicos são figuras do mundo encantado dos espetáculos de circo que devem ser preservados. “O movimento circense da rua é uma divertida palhaçada. Todos gostam de uma boa dose colorida de palhaços e marionetes.”



Apesar das diversas linguagens, o artista diz que as manifestações artísticas de rua em Goiânia estão cada vez menores. “Não se vêm mais apresentações com aquela magia que a arte urbana proporcionava aos moradores das grandes cidades. Hoje, o que vejo são artistas com malabares na faixa de pedestre, para conseguir dinheiro.”



O intuito das artes populares é de promover a interação entre a cidade, os artistas e o público. Peixoto afirma que os habitantes das cidades querem ver atores caracterizados nas praças e esquinas, interpretando e criando personagens. “O gostoso do teatro de rua é a beleza de apreciação da cidade. As capitais nacionais precisam de mais alegria e diversão.”



O diretor e ator da Companhia de Teatro do Maleiro, Marcos Marrom, diz que os atores passam por muitos conflitos nas ruas. Os comerciantes quase sempre não querem apresentações na frente dos comércios, a polícia repreende com violência e os fiscais da prefeitura não aceitam as apresentações em horários de pico.
Mesmo com toda a represália, Marrom vê os artistas de rua como atores da modificação social. “Acho que o artista faz porque gosta e quer viver de sua arte. A cidade é uma parte do seu trabalho. Ele deve estar bem para poder modificar o espaço. Só precisamos de espaço e incentivo para os grupos mostrarem os trabalhos.”



No ano passado, diversos setores artísticos do teatro protestaram contra a represália por parte da polícia e dos governantes. Em São Paulo, por exemplo, depois que o prefeito Gilberto Kassab proibiu os artistas de rua de receber doações, os atores foram às ruas para reivindicar a favor da liberdade e dos direitos e deveres individuais e coletivos.



Em Porto Alegre os artistas também reivindicaram sobre o cumprimento do Artigo 5º da Constituição Federal que prevê a liberdade de expressão, manifestação artística, entre outros, no território nacional sem prévia autorização. A ação faz parte de um movimento nacional que mobilizou a classe artística em todo o Brasil.

Teatro
Nos próximos meses, em Goiânia, os projetos teatrais serão voltados para a Segunda Revirada Cultural, que acontece entre os dias 11 de agosto a 13 de outubro. Ao todo, serão mais de 80 apresentações de grupos de teatro, dança e música. As apresentações de cultura popular vão ser desenvolvidas na Praça Joaquim Lúcio, no Setor Campinas.



Para o produtor cultural Leonardo Peixoto, as diversidades artísticas dentro das artes cênicas na Revirada Cultural, é uma verdadeira explosão de interpretação e ousadia por parte de diversos atores da capital. “Ano passado, na Primeira Revirada Cultural, os artistas estavam todos eufóricos e o teatro era montado nas ruas e esquinas de Goiânia. A revirada deste ano promete ser um verdadeiro espetáculo visual.”



Os projetos que viabilizam as produções teatrais em Goiânia são poucos. Mesmo assim, diversas companhias de teatro desenvolvem programações de espetáculos voltados para classes C e D. O Centro Municipal de Cultura Goiânia Ouro abriga muitas apresentações regionais e nacionais com preços acessíveis à maioria da população.



Em Julho deste ano, por exemplo, aconteceu o Prezadíssimos Ouvintes, no Cine Ouro. O projeto reuniu em um mesmo palco um misto de artistas, como Diego de Moraes, músico, historiador e cronista, Kleuber Garcez, ilustrador, músico e letrista de canção popular e Camila Leite, poetisa, musicista e editora de vídeos.

Diálogo e integração social em duas mil atividades

Os espetáculos cênicos não são as únicas apresentações artísticas da Segunda Revirada Cultural. Realizado pela Secretaria Estadual de Cultura (Secult), o evento irá desenvolver mais de duas mil atividades nas áreas de literatura, música, artes cênicas, artes plásticas e cinema.



Um dos objetivos do extenso projeto cultural é promover o diálogo entre diversos segmentos artísticos e culturais do estado de Goiás. A Secult informou que as apresentações artísticas promovem muito mais que entretenimento para a população. Elas geram laços para a integração social e transformam e identificam os sentidos sociais da arte.



A Revirada terá modificações em relação a 2010. Um dos focos das apresentações será a Estação Ferroviária no Setor Central. Haverá exposições teatrais no Museu de Arte de Goiânia e o Palácio da Cultura. O prefeito Paulo Garcia e o secretário de cultura Kleber Adorno afirmaram que a Revirada já integra o calendário cultural da cidade de Goiânia e tem garantida sua sequência nos anos seguintes.



Os projetos da Segunda Revirada estão maiores. Só no Multimídia, por exemplo, serão mais de 100 apresentações pelas esquinas da cidade de Goiânia, com artistas de todas as áreas e culturas diferentes. Duplas sertanejas, fotógrafos, artistas plásticos, performers, cantores, teatro de rua, hip-hop, poetas e caricaturistas apresentarão divulgarão seus trabalhos.



De acordo com o Secretário de Cultura, Kleber Adorno, a Revirada é um verdadeiro espetáculo de dois meses. Na abertura do evento, no dia 11 de agosto, Adorno ressaltou que o festival propõe projetos de integração social e preservação da cultura de Goiás. “O público é imenso, de todos os bairros, de todas as idades e de todas as classes sociais. A cultura tem esse poder de modificar o espaço urbano e realmente trazer algo de bom para as pessoas.”

Poesia muda rotina do transporte coletivo

Os projetos literários estão a todo o vapor na Revirada Cultural. Os projetos Literatura no Eixo e Achei um livro, comandados pelo produtor cultural Kaio Bruno Dias, serão voltados para a coletividade e sentimentalismo que a literatura transmite ao leitor.



O Literatura no Eixo é uma espécie de sarau dentro do Eixo Anhanguera, que corta toda a Goiânia. São cinco artistas de várias áreas específicas, como o teatro, cinema, poesia e musica, que entram nos ônibus, declamam poesias e distribuem livros para os transeuntes.



De acordo com Dias, a idéia é mudar o cotidiano social das pessoas. “Vamos chegar nos ônibus e falar pro pessoal que não estamos pedindo dinheiro e nem vendendo gominhas e tampas de pia. Nosso intuito é expandir a arte e divulgar poesias.”



O Achei um livro, tem por finalidade promover a circulação de livros poéticos e literários por toda a capital de Goiás. Ao todo, foram arrecadados mais de 3500 livros para a distribuição. Na arrecadação, o projeto contou com a ajuda da Secult, de algumas editoras e doação de leitores e escritores.



Diversas pessoas sairão de carro por toda a Goiânia deixando os livros em parques, praças, bancos, shoppings e lugares inusitados. “Vamos carimbar os livros com o nome do projeto e fazer com que depois de lidos, os livros continuem passando de mão em mão.”



Dias comenta que o projeto tem finalidades sociais. Para ele, a literatura, antes de todas as artes, emociona e uni a todos. “A poesia possui toda a parte sentimental de tocar as pessoas e desenvolver o gosto e o prazer pela leitura.”

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